quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Regresso a Elvas - III

Este será o meu último texto sobre Elvas no imediato, até porque estou a caminho de Berlim enquanto inicio a sua redacção. São muitos quilómetros que separam Berlim de Elvas. Mais longe ficam ainda as longas noites de Verão da minha infância onde me sentava a observar o Forte da Graça através janela do meu quarto. O céu estrelado sobre o forte fascinava-me. Foi talvez aí que comecei a sonhar com viajar e com descobrir o que estava para “além do Forte”. Alguém me irá responder muito correctamente que é o Vedor, mas o que eu mais admirava naquela visão era sentir que aquele monte de terra estava mais perto das estrelas que eu, e eu queria chegar às estrelas. O Forte da Graça foi assim um dos primeiros horizontes que eu tive que superar na caminhada até às estrelas. Outros horizontes foram criados desde então, e muitos outros o serão.

Soube durante a minha estadia que vão renovar o dito Forte da Graça, e para tal vão ser investidos uns quantos milhões de euros. Espero que não seja para construir mais um simples museu de circunstância. Os museus falam do passado. Os portugueses vivem muito no passado, nos descobrimentos, no antigo regime, num tempo que foi bom mas que tarda em voltar. É bom conhecer o passado mas é também importante traçar horizontes para o futuro, referências para que as pessoas tenham algo a que se agarrar na conquista dos seus sonhos. Espero por isso que o que seja feito no Forte da Graça seja destinado a criar horizontes nas pessoas, tal como o forte me serviu na minha infância, e que através dessa referência sintam que conseguem alterar a sua vida. O que mais me custou na minha estadia em Elvas foi observar que a vida das pessoas não mudou muito. A minha geração faz o mesmo que fazia a geração anterior: trabalho, casa, novela (ou futebol) e trabalho novamente, com uns copos e uns bitoques com os amigos pelo meio. Os bitoques continuam os mesmos de sempre. Confesso que há dias que invejo essa vida simples. Sair de casa e visitar os pais ou avós na rua abaixo, entre outras coisas. A minha questão é se há pessoas que ambicionam outras vivências, e se existem horizontes para guiar essas ambições.

Analisando a situação em Elvas verifico que existe um Comendador que é Vereador, algo que considero profundamente errado. Um vereador é alguém que gere projectos, pessoas, orçamentos. Muitas pessoas estão qualificadas para sê-lo. Os vereadores podem ser contratados, mas os Comendadores não! Um Comendador é alguém que pelo estatuto que atingiu está designado para obras mais vastas do que dirigir a obra da rotunda da boa-fé, sem menosprezo algum para este tipo de obras. O que pretendo aqui é valorizar o título de Comendador. Eu imagino um Comendador, que neste caso é uma promoção do anterior cargo de Presidente da Câmara, a escrever livros sobre a sua experiência, a dar palestras na escola, a mediar conflitos entre autarquias do concelhos, a promover a cidade junto de instâncias nacionais e internacionais, a angariar fundos para construção do forte, a defender causas mais transversais à população, entre muitas outras possibilidades. Há um sem fim de tarefas que um Comendador pode desempenhar, e que alguém com esse título pode desempenhar melhor que ninguém. Se o título servir apenas para ser exibido em parques de estacionamento, então é porque não há noção, não há horizonte daquilo que se pode fazer. Parece-me que o horizonte, neste caso, está colocado localizado fisicamente no Forte da Graça e daí não. Não existe nada mais amplo, mais vasto. Quando tal acontece, ou é porque se quer manter tudo igual para se manter o controlo dos acontecimentos ou então porque não há mesmo ideia de futuro. Ambos os casos representam um travão ao aparecimento de novas ideias, novas pessoas e novas empresas.  


Usando este exemplo, penso no que ambicionarão os funcionários da câmara, os empresários e as pessoas em geral. Será que não se importam que continue tudo igual e que a vida vá passando e se vá vivendo? Ou por outro lado, será que existem dificuldades em criar horizontes, novas metas e novos objectivos por que lutar? Penso em quantas pessoas gostariam de ter a oportunidade de criar uma oportunidade de criar uma empresa para proporcionar trabalho a outras pessoas, ou criar um produto inovador, ou simplesmente ganhar mais dinheiro que o Bill Gates. Suponho que cada um que ler este texto saberá responder melhor que eu. No entanto, sou da opinião que, em Portugal, e em Elvas em particular, são necessárias mais pessoas que queiram mudar o mundo, mesmo que esse mundo seja o quintal da nossa casa...

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Regresso a Elvas - II

Os meus dias em Elvas são bastante rotineiros. Todavia tenho especial prazer em fazer as coisas mais simples como por exemplo, caminhar até ao centro da cidade. Infelizmente, não tenho bicicleta comigo pelo que o passeio é sempre a pé. O facto de haver tantas rotundas faz-me pensar que o trânsito deve ser intenso, e o deve ser ainda mais pela manhã. Afinal de contas, as rotundas servem essencialmente para isso: melhor o fluxo de carros. Dessa forma, procuro ir o mais cedo possível para evitar o barulho do trânsito. Desde o Modelo até ao centro da cidade demorei 15 minutos e algo me surpreendeu. Apesar de estar um dia fantástico, apenas eu circulava a pé. Todas as outras pessoas circulavam em carros ou carroças, e não vi ninguém a circular em bicicleta.

Lembro-me de quando comecei a trabalhar em Antuérpia, na Bélgica. Em dias de mau tempo, ou seja quase todos os dias do ano, no percurso matinal de 3 minutos até à paragem de autocarro, olhava para o céu e queixava-me do tempo, da comida, do trabalho e de tudo o que me irritava. Mas depois, olhava para o lado e via centenas de pessoas a deslocarem-se de um lado para outro em bicicleta, fizesse chuva, neve ou Sol. Admirava particularmente aqueles que transportavam bebés em atrelados que se ligavam às bicicletas. Havia bicicletas especialmente adaptadas para transportar bebés. Importa dizer que as pessoas que usavam a bicicleta iam desde estudantes a executivos de fato e gravata. Para além de ser uma solução que permite poupar dinheiro e ambiente, o que mais me admirava era sentir que aquelas pessoas controlavam o seu próprio destino uma vez que dependiam única e exclusivamente de si próprios, da sua força e resistência para chegar ao destino. O tempo, a imagem e a distância não eram obstáculos para eles fazerem algo que consideravam melhor.

Quando me mudei para o Sul de França, a primeira coisa que fiz foi comprar uma bicicleta. Comecei a levantar-me às 6 da manhã e percorrer 11 Km até ao local de trabalho, enfrentando subidas com rampas de 6 e 8% de inclinação. Foi duro nos primeiros dias mas agora sinto que sou algo mais independente e que tenho um pouco mais o controlo da minha vida.

Olhando em volta pela cidade de Elvas, questiono-me se as pessoas em Elvas controlam a sua vida, ou se pelo contrário, são pessoas muito dependentes. Para se ter controlo da própria da vida penso que é importante haver liberdade de expressão, para que cada um consiga afirmar o que realmente quer. Dentro da liberdade de expressão, temos a liberdade de opinião, a liberdade do dizer e do falar. Esta última, apesar de ser das liberdades mais pequenas, quando não existe, inibe as restantes liberdades. É uma das liberdades primárias e que tem que ser assegurada. Esta reflexão faz-me pensar na demissão em bloco de todos os vereadores da câmara de Elvas na sequência da decisão do Presidente da autarquia em retirar o pelouro ao antigo Presidente. Sendo a retirada dos pelouros uma decisão que está no âmbito das competências do Presidente, poder esse que foi concedido pelos eleitores quando o elegeram, causa estranheza que todos se tenham demitido por um algo que está previsto que possa acontecer. Pode ser o caso, e citando Moliére, o dramaturgo francês, que “quando todos pensam o mesmo, é porque não se pensa muito ”. Ou pode ser o caso em que a liberdade de opinião dos vereadores fosse ignorada ou comprada, e estes tivessem sido “forçados” a demitir-se. A questão que se coloca aqui, é a de que se um vereador, que tem um salário superior à média da população, tem um mandato de 5 anos garantido e que só tem que prestar contas aos seus eleitores, consegue ser facilmente inibido de actuar segundo a sua opinião, então que liberdade de opinião terão pessoas que ganham o salário mínimo, desempregadas, trabalhadores precários ou até trabalhadores independentes que dependam da acção de vereadores, seja pela burocracia ou por negócios. Provavelmente muito pouca ou nenhuma. Por outro lado, se alguém quer provocar eleições, é porque pensa que vai ganhar as eleições, e se assim pensa, é porque considera que tem o controlo da vontade da população. Se de verdade tem o controlo da população então, logicamente, a população, ou a maioria das pessoas, não tem o controlo das suas vidas e, provavelmente, sente que não tem…LIBERDADE DE EXPRESSÃO. Quando assim acontece, as pessoas vivem em eterna dependência e com sentimento de dívida para quem trabalham ou possam trabalhar. Esse sentimento de dívida geralmente é explorado por que detêm o poder, para glorificação e mistificações das suas acções. A minha opinião é de que quem trabalha com rigor e dedicação, nada deve a ninguém.

Como algum mestre Zen terá dito, Há sempre duas opções na vida: sermos apenas aquilo que somos, sujeitando-nos ao que nos dão, ou sermos melhor daquilo que somos, procurando a liberdade para aceitar, ou não, aquilo que nos dão. A mudança exige apenas um passo em frente..

Trânsito em Elvas é algo que ainda não encontrei… 

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Regresso a Elvas - I

Estive em Elvas na semana passada. Depois do vir do Sul de França, que é talvez a zona do globo mais sobrevalorizada, onde abundam a vaidade e o supérfluo, estava contente por voltar a minha terra e tomar um banho de “autenticidade” e de “simplicidade”. Lembro-me de entrar na cidade pela avenida que está a seguir as piscinas municipais, avenida essa da qual nunca soube o nome e que estava em obras. O que me chamou a atenção nessa avenida foi o facto de avenida já ter palmeiras colocadas no separador central. De repente, comecei a lembrar-me de Nice, Antibes, Cannes, Saint Tropez, Mónaco, e de algo que me surpreendeu quando lá cheguei. Nessas terras conhecidas internacionalmente pela beleza e pelo glamour, a maior parte das avenidas e das rotundas são decoradas com…oliveiras! Mesmo na empresa onde estou os corredores exteriores que ligam os vários edifícios do complexo onde a empresa está, são ladeados por…oliveiras! Na altura fiquei muito contente com esta descoberta porque as oliveiras mais bonitas são as da minha terra! Mais, em muitas rotundas as pessoas plantam ervas aromáticas (rosmaninho, coentros e por ai) e quando passam pelas rotundas recolhem molhos dessas ervas plantadas. O choque cultural foi maior quando revi as rotundas de Elvas. Confesso que achei e acho agora as estátuas das rotundas algo pindéricas e desproporcionadas, e faco as contas no custo e na necessidade de importar uma palmeira! Talvez aqui haja mais peneiras que na Cote d´Azur francesa pensei…

Tudo isto me leva a concluir que parte da população ainda não interiorizou que a grandeza das coisas e dos objectos. A grandeza de algo não advém do seu tamanho, da sua forma ou do seu custo. A grandeza de algo provem do seu VALOR, que é independente do tamanho, forma ou custo. Para exemplificar, basta dizer que nas minhas viagens visitei sítios e locais a cair de podre, e no entanto, havia milhares de visitantes que tiravam fotografias nesses sítios e locais. A razão para isso é porque esses sítios tinham valor, e esse valor podia ser uma história ou gesto simbólico por detrás, uma inovação arquitectónica ou a representação de um evento histórico. Esse valor falta às obras que vejo em Elvas, na medida em que não constituem referência ou não acrescentam muito ao imaginário das pessoas.


 Transportando esta noção de valor para o acontecimento desta semana, em que o Presidente retirou a confiança ao anterior Presidente, é importante analisar qual o verdadeiro valor dessa tomada de atitude. Não conhecendo o Nuno Mocinha, a imagem que ele transmite é a de um alentejano igual a tantos outros: barriga generosa, sorriso humilde, corpo de quem não faz muito desporto e quem come muita carne de porco, voz de “whisky” e sotaque acentuado. Dos seus projectos e ideias nada sei. Todavia, o que este alentejano igual a tantos outros fez, é algo que um número reduzido de pessoas no mundo fez ou faz. Passo a explicar, o Nuno Mocinha chegando a uma fase onde percebeu que o seu espaço, a sua acção, as suas ideias, e mais importante as suas convicções estavam a ser reduzidas, não ficou na sua zona de conforto a disfrutar do salário e dos benefícios da sua posição. Acreditou nas suas convicções e no seu trabalho, e pondo em risco o seu futuro profissional e da sua família, decidiu romper com o passado e aceitar a responsabilidade pelo futuro. Quantos de nós não ficámos calados em determinadas ocasiões para proteger o nosso salário ou a nossa promoção!?. Quem actua como o Mocinha é que porque nada deve, e tudo o que devia foi pago em trabalho e dedicação. Eu sou daqueles que acho se o anterior Presidente teve sucesso, foi porque teve pessoas como o Mocinha que para ele trabalharam. Da mesma forma considero que se o anterior Presidente fez muito por Elvas como se apregoa, Elvas fez muito pelo anterior Presidente. Sem Elvas, o Rondão Almeida provavelmente não chegaria a Comendador. Além do mais. O anterior Presidente tinha um salário, não vive num T1 e tem o seu nome espalhado pela cidade (inclusivé nessa obra do diabo que é o parque por baixo da Praça da República). 

Tudo isto para dizer, que a acção do Nuno Mocinha tem verdadeiramente o que eu chamei de VALOR, uma tanto mais que aconteceu numa cidade, como em tantas outras cidades, onde as pessoas têm receio de criticar publicamente o antigo Poder instituído por possíveis represálias que afecte o seu emprego ou a sua empresa, tal compridos são os tentáculos das câmaras municipais em cidades pequenas. Haver uma pessoa que mostra que é possível lutar contra tudo e todos (pelo vistos houve uma demissão em bloco dos restante vereadores) pelas suas convicções, abre espaço para que outras possam fazer o mesmo, e isso sim é criar VALOR, um valor muito superior ao valor de todas as rotundas, palmeiras e campos de futebol. Desde há muito que pensava que Elvas, apesar de todas as obras, não se tinha desenvolvido assim tanto porque as pessoas viviam da mesma forma que viviam há 20 anos atrás, com os mesmos hábitos e com as mesmas ambições, num mundo que muda quase ao segundo. O facto de a sociedade elvense ter produzido pessoas que têm a coragem de defender os seus ideais é o facto revelador que houve em Elvas aquilo que é verdadeiramente…desenvolvimento. 

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Belgium – Emotional Side Story (Part I)

I leave this testimony to my Belgium friends as an appreciation for my year living in Belgium. Although Belgium is perceived and often described by me, as a non-emotional, lack of spark country, the truth is that I lived quite a few emotional times during this year. I cannot deny that the person that arrived to Belgium is not the same person today, meaning that the experience lived was not personally irrelevant. I will try to compile in a few texts my personal view on the country and persons, trying to be what this country is proven to be: fair.

The first thing I would like to say is that I don’t have many Belgian friends, although this text is mainly for them. There are two reasons for that: 1) the large number of expatriates living on the main Belgian cities (e.g., Brussels has 183 nationalities), makes them the first point of contact to meet new people; 2) the nature and routine of Belgian people makes it difficult to deepen new relationships. However, when the “wall of rationality” build by the Belgians is overcome, simple friendships can be easily built. After all, here all it takes is a few beers and some frituur to make a long lasting conversation.

Usually I’m questioned about if Belgium is indeed two countries in one, due to this dutch-french influence. I agree there is a bit of truth on that. However, I prefer to think differently: it is admirable that such a small country without major cities to where the nation culture can converge was able to maintain an identity, being a surrounded by three of the majors and most dominants countries of Europe across history: France, Germany and Netherlands. If still exist as country, then is because it has something that differentiates it from the countries I mentioned above. It is true that nothing screams and shouts “Belgium” over here, however there are a few things which strongly and clearly mark this territory and separate it from its neighbors.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Noruega - Dia 2


Acordei na manhã seguinte a ter chegado a Oslo com a sensação de ter sido roubado na noite anterior. Depois de ter chagado à estação de Oslo as 0h30m e de andar perdido nas ruas de Oslo com uma temperatura  0  graus, decidi apanhar um táxi para o Hotel. O motorista disse que eram apenas 4 minutos de viagem. E assim foi. Resultado: 177 NOK (coroas noruguesas), ou seja, 23 euros! Como bom português pensei logo em enganar alguém para recupear do roubo! Mas na verdade, já sou um português de uma geração mais trabalhada, e aceitei as responsabilidades pelo roubo.

O dia começou com um passeio pelas ruas de Oslo sugerido pela recepionista  «sem espaço para mais tatuagens» do hotel. Um verdadeiro monumento de arte pós moderna! Oslo é uma cidade um pouco mais aborrecida que a recepcionista, sem muita côr, com uma arquitectura muito simples, onde o funcional predomina sobre a beleza, típico  das cidades do Norte da Europa. A marina revela-se o local mais interessante, com a dinâmica da multidão sedenta de Sol e a vista sobre as montanhas geladas que rodeia a cidade. É aqui que se situam dois dos edíficos mais emblemáticos de Oslo: ao edífico da Ópera e o Nobel Peace Price Center, onde é entregue o prémio Nobel da Paz.

Tinha combinada encontrar-me com a minha colega de viagem nesse mesmo dia na estação de Oslo. E assim foi. Nessa mesma tarde, apanhámos o comboio para Bergen. O trajecto de comboio Oslo-Bergen demora cerca de 7 horas, e é considerado por muitos o trajecto de comboio mais bonito do mundo. Foi aqui que foram filmadas as cenas de viagens de comboio dos filmes Harry Potter. Na verdade, a viagem faz jus à sua reputação. Depois de sair das zonas urbanas, o comboio penetra de frente em montanhas agresestes semi-desertas, contornando vários lagos e oferendo panorâmicas de uma natureza gigante e virgem, que não se encontram no Sul da Europa.  A paisagem é claramente hostil à vida humana, com temperaturas muito negativos e um relevo de dificil domínio por parte do Homem.

Nas 7 horas de viagem são poucas as aldeias que encontramos, quase todas cobertas pela neve e sem estradas vísiveis. São zonas frequentadas por amantes do esqui. São muitos os esquiadores, solitários e em grupo, que entram e saiem do comboio à medida de que o comboio vai parando. A dureza do terreno e o isolamento que as pessoas são submetias, ajuda a explicar as feições agressivas das pessoas nesta região e a sua atitude rude e individualista. Aqui ninguém diz «Bom dia» ou sorri por simpatia ou pratica actos de cavalheirismo . São actos irrevelantes para a sobrevivência física, prioritária face à sobrevivência social.

Passadas 7 horas sem grande esforço ou desgaste, o comboio chega a Bergen, segunda cidade e antiga capital da Noruega, situada na costa Oeste do país.
O dia seguinte será o da visita aos fjordes.

domingo, 7 de abril de 2013

Nesta


Longe vão os dias em que julgava que conseguia mudar o mundo através das palavras. No entanto ha historias que merecem ser contadas, e essas sim, podem mostrar que a mudança e possível...

Esta historia aconteceu num dos meus muitos voos. Tinha descolado de Lisboa em direção a Bruxelas. Depois de tantos voos, o conhecer das pessoas que se sentam ao meu lado já não se afigura tão interessante assim como no inicio. Desta vez foi diferente. Lembro-me que so dei por isso meia hora depois de descolarmos e de controlar os meus receios...
O avião já tinha atingido velocidade de cruzeiro, e ao meu lado estava um rapaz de cor que aparentemente viajava sozinho, que não devia ter mais de 12 anos. Perguntei se estava bem e se viajava sozinho. Ele respondeu, em Inglês, que estava bem e que viaja sozinho desde o Gana, tendo feito escala em Lisboa. Já ia portanto com mais de 10 horas de viagem. Continuou a falar e perguntou –me se já tinha viajado de avião antes, ao que eu respondi “umas 500 vezes”. Suspirou de alivio, e disse que se sentia melhor por viajar ao meu lado, uma vez que eu já tinha viajado tanto. Nesse momento engoli coragem e esqueci todas as crises de voar para dar dar segurança ao rapaz. De seguida, contou-me a sua historia: chamava-se Nesta, tinha 12 anos, era a primeira que voava, e ia ter com a a sua mãe que vivia na Bélgica, e a qual não via desde 2007 (6 anos portanto). Atrás deixava o seu pai, tio e irmão com quem vivia. Segundo me contou, a sua mãe passou dois anos a juntar dinheiro para o trazer para a Bélgica. O seu pai era pescador e o seu tio era sapateiro e também tinham ajudado para a viagem. Para quebrar os pensamentos saudosistas,perguntei o que o que queria ser quando fosse grade: “Piloto”, respondeu.Achei curioso, e como tal, chamei a assistente de bordo, e sem ele saber, pedi a assistente para que o levasse ao cockpit. Contei-lhe a historia do miúdo, e ela, depois de confirmar com o comandante, chamou o Nesta e la o levou. Eu pensei, em 500 viagens, nunca fui ao cockpit...

Passado meia-hora o rapaz voltou contente como ate ai não o tinha vista...Contou-me que tinha mexido nos comandos do avião, eu cheio de inveja fiquei: C***, pensei! Sentindo a necessidade de me compensar, tirou a mochila que tinha debaixo do banco. Referiu que tudo o que trazia consigo estava naquela mochila. Ou seja, ele ia fazer 20.000 Km, mudar de pais de vida, e trazia uma mochila, e eu, que viajava por 1 semana, trazia uma mochila e um trolley no porão! 
Abriu a mochila e tirou tudo o que tinha: uma sandes, umas sandálias de couro feitas pelo tio, um pullover e uma bíblia. Perguntou se eu acreditava em Deus. Eu disse que acreditava na existência de algo mas que não sabia o seu nome. De seguida, pediu-me para eu ficar com a bíblia. Recusei a oferta dizendo, que ele tinha de acabar de ler aquela bíblia e depois continuar e ler todas as outras, para um dia escrever a sua própria, tal como eu tento fazer. Guardou a biblia, e mostrou-me as sandálias. Eram pretas e como todas as sandálias, eram abertas. Disse-lhe que eram bonitas mas que, infelizmente, na Bélgica nas as poderia utilizar muito porque estava a nevar. De repente, os olhos abriram-se de espanto, e disse que nunca visto neve. A partir dai, colou o seu olhar na janela a espera de ver a dita neve. Mostrei-lhe o mapa do mundo, e apontei no mapa o trajecto que ele tinha feito. Expliquei que quanto mais para Norte, mais frio. Ele já não se importava, ja so queria ver a neve.

No fim, aterramos em Bruxelas, com o aeroporto coberto de neve, e o Nesta agradeceu-me por tudo como se eu fosse um feiticeiro que tivesse feito nevar. Acabou por ser levado pelos serviços de assistência e eu já não vi o reencontro com mãe. Deixou-me um papel com algumas palavras escritas no dialecto da aldeia, que ainda guardo. O que mais me marcou, foi ver um rapaz de 12 anos que apesar, do que estava a viver, nunca esboçou um sentimento de tristeza, magoa, infortúnio ou arrependimento. O seu sorriso apenas mostrava a alegria e coragem de quem vê o mundo pela primeira vez. No fim do dia, todos as preocupacoes que tinha desaparecerem, pois na verdade, são insignificantes quando comparadas comparadas com a alegria viver.

PS: em Portugal queixam-se do que mesmo?

sexta-feira, 29 de março de 2013

Noruega - Dia 1


A viagem para Oslo começa em Beerse, pequena vila no Norte da Bélgica, junto a fronteira com a Holanda, na sede da empresa onde presto servico. São cinco da tarde e depois de 2 dias de sol tímido, o Inverno volta a mostrar que não esta acabado e recomeça a nevar. Estamos em Marco e este foi o Inverno mais duro desde 1953.
O trajecto começa com uma viagem de carro na companhia do Steve que, generosamente, alterou o seu percurso para me levar ate a estacao de comboios em Breda, cidade holandesa junto a fronteira belga. O steve tem a curiosidade de ser filho de pai holandês, mãe inglesa, trabalhar na Bélgica, residir no reino Unido e pagar impostos no Estados Unidos. A bagageira do carro, em vez de bagagens, vai completamente preenchida por garrafas de cerveja belga! As bagagens são despromovidas para o assento de trás. A viagem dura cerca de quarenta minutes e fala-se dos bancos, emprego na Europa ou a falta dele, e de Beerse, essa vila Agrícola de difícil acesso que sem sabermos qual o motivo divino, foi colocada no caminho das nossas existências.

A entrada da Holanda e notada porque a Estrada deixa de ter solavancos. A Bélgica tem das piores estradas que ja vi. Ao inicio ainda pensei que os veículos na Bélgica tivessem todas quadradas! Passados alguns minutes depois de entrar na Holanda chego a Breda, cidade tipicamente Holandesa, que visitarei outro dia e onde vou apanhar o comboio para o aeroporto de Amsterdao.

(15 minutos de sono pesado).

Chego ao aeroporto de Amsterdao 50 minutos depois de sair de Breda e o cansaço atingi-me. Filas intermináveis, procedimentos de segurança, esperas…O ritual cansa-me cada vez mais, e no meio de tanta gente desconhecida, acuso a distancia que me separa de casa. Depois de ter estado em 7 países no últimos 2 meses, a distancia torna-se cada vez maior, não porque o numero de quilómetros seja maior, mas porque o desprendimento da terra vai acontecendo naturalmente, ate provocar a sensação que o chão se move e foge por baixo de nos. Nesses momentos de fraqueza agarro-me as memorias mais fortes, as da infância, para recordar-me de quem sou e de onde venho! De repente, volto a sentir o chão debaixo dos pés…

A viagem de avião Amsterdao para Oslo dura 1h30m a bordo de um boeing 737-800 da Norwegian Airlines, equipado com Wireless, que e onde escrevo este relato! Não gosto de viajar de avião, já há muito que perdi o prazer, mas procuro que essa fraqueza não seja obstáculo para atingir os meus objectives e sonhos. Afinal de contas os medos e os receios também fazem parte da vida, e aprender a conviver com eles, por mais ridículo que por vezes sejam os nossos comportamentos para permitir essa coexistência, e sinal de coragem e determinação. 

O programa da viagem já esta feito ao contrario do que e habitual em mim: chegada a Oslo, onde pernoito uma noite, e no dia seguinte, vou apanhar o comboio em direção Bergen, na costa Oeste da Noruega. Para quem não saiba, o percurso Oslo-Bergen de comboio e considerado por muitos, o mais bonito do mundo. As expectativas são altas, ate porque este ano já viajei de comboio na Suica, pelo meio de Alpes e lagos. Nãoserá fácil superar. Chegado a Bergen irei fazer o percurso dos fiordes de comboio e de barco, e no dia a seguir regresso a Oslo de avião. O resto da viagem será para conhecer Oslo.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Vidas dos nossos dias - Capitulo I: " O Inicio"

Levanto-me…Haverá algum som que fique bem num despertador?

São 5.30 da manhã de mais uma segunda-feira em que me espera mais uma viagem de
avião para ir trabalhar…O sono não se quer ir embora mas lá venço o corpo e
deixo o calor da cama.

domingo, 20 de maio de 2012

As razoes pelas quais o CR7 e, nao melhor, mas muito melhor, que o Messi

Como o meu blog precisa de audiencias, decidi escrever um texto banal, sobre um tema banal, e, ja agora, de forma banal (e sem acentos porque o meu teclado alemao nao o permite).

Escrevo, de forma resumida, as razoes porque o Cristiano Ronaldo (CR7), esse nabo da bola, é, apesar de tudo, muito melhor, que o humilde, isento de pecados, de seu nome, Lionel Messi (LM):

  1. O CR7 consegue fazer com que um meio campo do mais banal que há por aí, pareca ser um meio campo do melhor que existe (o Coentrao chegou a jogar a trinco!); Em contrapartida, o Messi e transformado num jogador muito melhor pelo melhor meio campo da historia do futebol
  2. O CR7 se jogasse no barcelona, marcaria 90 golos por epoca; o Messi no Real Madrid nem chagava aos 40
  3. O CR7 joga com 1 ou 2 ponta de lanca ao lado e consegue marcar aqueles golos todos; no Barcelona, nao existem goleadores.
  4. Nao existe nenhum jogador na historia do futebol que jogue na linha, que consiga ir a linha de fundo e cruzar, que marque tantos golos como o CR7! Ter a capacidade de ir à linha e marcar golos é qu anti-natural
  5. E, acima de tudo, porque o CR7, é Portugues! Quem trabalha fora de Portugal, sabe o esforco que é necessário para que o nosso trabalho seja reconhecido da mesma forma que p trabalho outros! Just ou injusto, é um facto que temos que viver no nosso tempo! O CR7 tem que trabalhar muito mais que M., para ter o mesmo reconhecimento...

sábado, 3 de março de 2012

Vidas dos nossos dias - Capitulo I: " O Inicio"

Levanto-me…Haverá algum som que fique bem num despertador?
São 5.30 da manhã de mais uma segunda-feira em que me espera mais uma viagem de
avião para ir trabalhar…O sono não se quer ir embora mas lá venço o corpo e
deixo o calor da cama.

Não deixa de ser assinalável que, num país em que a população
está concentrada em parte porque todos querem estar perto do trabalho, que haja
pessoas que todas as semanas viagem pela europa fora para fazer aquilo que cada
vez é mais difícil em Portugal e que é…trabalhar!
O táxi aparece à porta como sempre e no caminho vejo mais um
nascer do sol. Um das vantagens desta rotina. Penso no número de pessoas que
passam pelos dias e pela vida sem ver um nascer do sol e digo para mim: “Que desperdício
de vidas”!

Faço parte de um grupo de pessoas que é emigrante durante a semana
e turista em Portugal aos fins-de-semana. Todas as segundas-feiras viajo para
Dusseldorf, no Noroeste da Alemanha, onde consegui um contrato para trabalhar
como freelancer de IT numa empresa multinacional. Nunca como neste tempo, a
célebre frase de Sócrates, “ Sou um cidadão do mundo”, fez tanto sentido.
Sócrates proferiu a frase para escapar às acusações de que era alvo. No meu
caso, uso-a para escapar à angústia de estar em todo o lado mas não pertencer a
lado nenhum.

Começo a ver os aviões a sobrevoar a cidade…Chego
ao aeroporto. Sempre quis viajar à Lua, mas à verdade é que não gosto de viajar
de avião. Não tenho alternativa de momento às viagens de avião. Apenas mais um obstáculo
do dia-a-dia que tem que ser superado. De certeza que a vida no paraíso, onde
não deve haver os ditos obstáculos, deve ser aborrecida.