Este será o meu último texto
sobre Elvas no imediato, até porque estou a caminho de Berlim enquanto inicio a
sua redacção. São muitos quilómetros que separam Berlim de Elvas. Mais longe
ficam ainda as longas noites de Verão da minha infância onde me sentava a
observar o Forte da Graça através janela do meu quarto. O céu estrelado sobre o
forte fascinava-me. Foi talvez aí que comecei a sonhar com viajar e com
descobrir o que estava para “além do Forte”. Alguém me irá responder muito correctamente
que é o Vedor, mas o que eu mais admirava naquela visão era sentir que aquele
monte de terra estava mais perto das estrelas que eu, e eu queria chegar às
estrelas. O Forte da Graça foi assim um dos primeiros horizontes que eu tive
que superar na caminhada até às estrelas. Outros horizontes foram criados desde
então, e muitos outros o serão.
Soube durante a minha estadia que
vão renovar o dito Forte da Graça, e para tal vão ser investidos uns quantos
milhões de euros. Espero que não seja para construir mais um simples museu de
circunstância. Os museus falam do passado. Os portugueses vivem muito no
passado, nos descobrimentos, no antigo regime, num tempo que foi bom mas que
tarda em voltar. É bom conhecer o passado mas é também importante traçar horizontes
para o futuro, referências para que as pessoas tenham algo a que se agarrar na
conquista dos seus sonhos. Espero por isso que o que seja feito no Forte da
Graça seja destinado a criar horizontes nas pessoas, tal como o forte me serviu
na minha infância, e que através dessa referência sintam que conseguem alterar
a sua vida. O que mais me custou na minha estadia em Elvas foi observar que a
vida das pessoas não mudou muito. A minha geração faz o mesmo que fazia a
geração anterior: trabalho, casa, novela (ou futebol) e trabalho novamente, com
uns copos e uns bitoques com os amigos pelo meio. Os bitoques continuam os
mesmos de sempre. Confesso que há dias que invejo essa vida simples. Sair de
casa e visitar os pais ou avós na rua abaixo, entre outras coisas. A minha questão
é se há pessoas que ambicionam outras vivências, e se existem horizontes para
guiar essas ambições.
Analisando a situação em Elvas verifico
que existe um Comendador que é Vereador, algo que considero profundamente
errado. Um vereador é alguém que gere projectos, pessoas, orçamentos. Muitas
pessoas estão qualificadas para sê-lo. Os vereadores podem ser contratados, mas
os Comendadores não! Um Comendador é alguém que pelo estatuto que atingiu está
designado para obras mais vastas do que dirigir a obra da rotunda da boa-fé,
sem menosprezo algum para este tipo de obras. O que pretendo aqui é valorizar o
título de Comendador. Eu imagino um Comendador, que neste caso é uma promoção
do anterior cargo de Presidente da Câmara, a escrever livros sobre a sua
experiência, a dar palestras na escola, a mediar conflitos entre autarquias do
concelhos, a promover a cidade junto de instâncias nacionais e internacionais,
a angariar fundos para construção do forte, a defender causas mais transversais
à população, entre muitas outras possibilidades. Há um sem fim de tarefas que
um Comendador pode desempenhar, e que alguém com esse título pode desempenhar
melhor que ninguém. Se o título servir apenas para ser exibido em parques de
estacionamento, então é porque não há noção, não há horizonte daquilo que se
pode fazer. Parece-me que o horizonte, neste caso, está colocado localizado
fisicamente no Forte da Graça e daí não. Não existe nada mais amplo, mais
vasto. Quando tal acontece, ou é porque se quer manter tudo igual para se
manter o controlo dos acontecimentos ou então porque não há mesmo ideia de
futuro. Ambos os casos representam um travão ao aparecimento de novas ideias,
novas pessoas e novas empresas.
Usando este exemplo, penso no que
ambicionarão os funcionários da câmara, os empresários e as pessoas em geral. Será
que não se importam que continue tudo igual e que a vida vá passando e se vá vivendo?
Ou por outro lado, será que existem dificuldades em criar horizontes, novas
metas e novos objectivos por que lutar? Penso em quantas pessoas gostariam de
ter a oportunidade de criar uma oportunidade de criar uma empresa para
proporcionar trabalho a outras pessoas, ou criar um produto inovador, ou simplesmente
ganhar mais dinheiro que o Bill Gates. Suponho que cada um que ler este texto
saberá responder melhor que eu. No entanto, sou da opinião que, em Portugal, e
em Elvas em particular, são necessárias mais pessoas que queiram mudar o mundo,
mesmo que esse mundo seja o quintal da nossa casa...