quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

OCaus no Natal

Numa altura em que o mundo ocidental vive empaturrado até às narinas de materialismo e consumismo, e ainda mais nestas quadras, OCaus faz referência a um vídeo gravado clandestinamente por uma associação suiça de defesas dos animais. Com as economias de escala a ditarem as leis de mercado, cada vez são mais os produtos manufacturados através de formas que violam direitos e deveres básicos do ser humano. Por outro lado, a globalização provocou que muitas das nossas compras sejam compras cegas, ou seja, não temos informação sobre onde e como foram produzidos os artigos adquiridos. Importa referir que o preço final de produtos idênticos é relativamente o mesmo independentemente da marca, o único que difere é quanto paga cada parte envolvida e como paga. Neste caso foram animais! Talvez seja mais saudável pagar um pouco mais para ter certezas e não sermos cúmplices silenciosos de crimes como os filmados no vídeos a seguir.

http://www.petatv.com/tvpopup/video.asp?video=fur_farm&Player=wm&speed=med

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O Remédio para a Crise

Crise, Crise, Crise e mais Crise...É capaz de ser a palavra mais utilizada nas últimas semanas!

A maioria de nós já ouviu em alguma fase da sua vida que os problemas de saúde não se resolvem ignorando as causas! Neste caso, OCaus sugere este remédio para esta Crise tão badalada: ignorar, não falar, não ouvir e não debater este assunto, que ela passa mais depressa do que pensamos! A Crise, pela menos a maior parte desta, está onde estão a maior parte destas crises, isto é, nas cabeças das pessoas!

domingo, 7 de dezembro de 2008

O Economês

Por estes dias, onde a palavra a crise inunda as nossas comunicações, os economistas são as pessoas mais solicitadas, os seus blogs os mais visitados, as suas opiniões as mais lidas e as suas posições as mais consideradas. Para além disso, temos ainda os relatórios económicos do Governo, do INE, do Banco de Portugal, da UE, do Banco Central Europeu, da OCDE e de outras organizações sem rosto, como o FMI, a OMC e o Banco Mundial. Na maior parte destes casos, surgirão ainda os relatórios com revisões de todas essas instituições para as previsões incorrectas. Curiosamente, e apesar da enormidade de recursos humanos e financeiros disponíveis no conjunto de todas essas instituições, imagine-se já agora o que seria se tais recursos fossem aplicados na medicina, matemática, física, biologia, química e áreas de desenvolvimento tecnológico, as previsões e estimativas que apresentam raramente coincidem.

Por outro lado, falar de economia em Portugal tornou-se num acto corrente, algo análogo ao falar sobre a Austrália: muitos falam sobre a Austrálias mas foram poucos os que efectivamente lá estiveram. Da mesma forma, muitos sustentam opiniões sobre a economia, mas poucos foram os que leram um livro sobre o tema! No entanto, e apesar da recente crise ter provocado medidas completamente imprevisíveis como por exemplo, a nacionalização de bancos nos EUA por um Governo de extrema-direita, ninguém parece pôr em causa os fundamentos da teoria económica (não confundir com a regulamentação dos mercados financeiros), cujos fundamentos estão na base das orientações políticas do pós-guerra e foi a “arma” preferencial usada pelo EUA para a expansão da sua influência. Aliás, parece mais fácil pôr em causa um qualquer Deus, a pôr em causa qualquer um desses fundamentos, tal é o misticismo que se criou à sua volta. Mas a pergunta que se coloca é, com tantos "economistas" a falar e supostamente a aplicar as leis da economia, quem sobra para trabalhar e desenvolver essa teoria, de forma a criar modelos mais eficientes? Muitos concluem, entre os quais o autor deste blog, que a Economia, após 250 anos de existência da teoria , já que apenas foi considerada disciplina autónoma após a publicação de A Riqueza das Nações por Adam Smith, em 1776, ainda não se qualificou como ciência. As teorias científicas devem obedecer ao princípio Quod ubique, quod semper, quod ab omnibus, i.e., válidos em qualquer lugar, em qualquer tempo e por qualquer pessoa. A economia ainda não atingiu tal maturidade.

Quem aprofundar um pouco o conhecimento sobre Economia, irá verificar que muitas leis têm por base ainda…metáforas! O exemplo mais evidente é a metáfora da “mão invisível”, usada pelo próprio Adam Smith para descrever a evolução dos mercados. Segundo esta tese, os agentes de um mercado devem agir sempre na busca do seu auto-interesse e do lucro próprio, havendo uma mão invisível que orienta as interacções entre esses mesmos agentes de forma a produzir resultados eficientes para o mercado em geral. Tal entidade nunca foi determinada nem existe nenhum modelo matemático que sustente essa tese, mas apesar disso esta metáfora constitui um quasi postulado na Economia dos dias hoje. É caso para pensar se por acaso estas leis são revelações de uma qualquer entidade divina, ou se encontram num qualquer horizonte mágico, ou se por caso foram escritas numa tábua e guardadas numa arca há muito tempo atrás.

(continua)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Sobre o poder dos bancos

Há 200 anos alguém fez a seguinte afirmação :

"I believe that banking institutions are more dangerous to our liberties than standing armies. If the people ever allow private banks to control the issue of their currency, first by inflation, then by deflation, the banks and corporations that will grow up around the banks will deprive the people of all property until their children wake-up homeless on the continent their fathers conquered."

Thomas Jefferson 1802

sábado, 29 de novembro de 2008

OCaus à solta

As recentes manifestações dos professores tiveram o condão de mostrar uma nova atitude que até aqui apenas tinha sido notada pontualmente. Independentemente do conteúdo dos protestos e dos meios que foram utilizados, e sem querer emitir opinião sobre qual dos lados tem a maior quota de razão, uma vez que a razão nunca está toda só de um lado, o que sobressai nestes acontecimentos é a sensação de poder que de repente parece caracterizar esta classe profissional. Tal sensação sobressaiu da mesma forma nas recentes manifestações dos camionistas, nos protestos dos farmacêuticos (neste caso os meios foram outros). Talvez porque foram movimentos que acabaram por sair do controlo dos sindicatos e cuja iniciativa acabou por ser determinada por um conjunto de pessoas que se organizou espontaneamente por uma causa comum, o facto é que parece que as pessoas estão a encontrar uma fonte poder. Aparentemente, está-se a chegar à conclusão que através da organização colectiva, juntando esforços, defendendo posições de forma conjunta, planeada e persistente, é possível ter impacto/influência nas decisões a tomar e a implementar pelos órgãos de poder. Depois de 35 anos do sistema que a generalidade classifica como democrático, saúda-se no mínimo esta progressão, que não é mais do que é uma responsabilidade inerente à criação da democracia: a da participação activa de todos. Que ninguém se esconda e que ninguém cale a sua voz! Nunca é tarde para começar...

Logicamente, e assim se espera, a qualidade do protesto e da exigência, incluindo dos meios utilizados, irá ser refinada e desembrutecida. Da mesma forma, a qualidade das medidas e o processo de as implementar terá que ser melhor por parte dos governantes para evitar possíveis oposições. Tudo isto dependerá sempre da “cultura”daqueles que protestam. No entanto, esta é claramente a dialéctica que se pretende!

domingo, 23 de novembro de 2008

Olhar o Caus - Angola, ame-a ou deixe-a em paz

Aquilo que o manto do "ouro negro" não deixa contemplar..
1) Barra do Kwanza










2) Pôr-do-sol - Cabinda_______ 3)Terra vermelha - bocoio







4)Quedas de Malange; 5) Rio Kwanza; 6) Estação das chuvas - Matala


7) Pôr-do-Sol - Luanda

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Olhar o Caus



A crise no alentejo (R.Patrocinio)
Hora de ponta no Alentejo (R.Patrocinio)
Olhares planos (R. Patrocinio) ___ _____



segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Forte da Graça - forte da apatia


O Forte da Graça está localizado a 3 Km a norte da cidade fronteiriça de Elvas, no cimo do chamado Monte da Graça, a 368 m de altitude. Foi mandado construir em 1763 pelo Marechal Inglês Wilhelm von Schaumburg-Lippe, conde Lippe, que tinha sido chamado pelo Marquês de Pombal para reorganizar o exército português e a praça-forte de Elvas face ao perigo da invasão espanhola, latente desde a Guerra da Restauração de 1640 em que a independência portuguesa foi reconquistada. As obras duraram até ao reinado de D.Maria I, sendo inaugurado em 1792. Desde então, Elvas nunca mais foi tomada nas sucessivas guerras que decorreram contra o vizinho espanhol - Guerra das Laranjas (1801) e Guerra Peninsular (1881).

Considerado uma obra prima de arquitectura militar, qual estrela que caiu do céu e se fundiu com o cimo do monte, e apesar de todo o património cultural e histórico que carrega, e que tão importante foi para o desenrolar da nossa história, o Forte da Graça encontra-se desde há vários anos fechado ao público e num estado de abandono. O abandono é tal que muitos elvenses não têm conhecimento do desenho que se pode vislumbrar numa perspectiva aérea. Apenas reconhecem a torre que se ergue no centro do monte e as encostas angulares. Como se conclui, este abandono não é apenas físico, é também um desligar da história e dos lugares que definem o nosso “código genético” da nossa cultura.

Por outro lado, a história ensina-nos que todos os governos, quando assentes sob um poder dito tradicional (i.e., um poder aceite por todos como legítimo e sem contestação quanto à sua natureza), como é o caso do poder democrático e das instituições que gerem esse poder, funcionam em regime de auto-preservação, ou seja, a prioridade primária é a manutenção das instituições e dos seus representantes, enquanto que a satisfação das exigências das pessoas, quando não colide com a preservação do sistema, terá medidas reduzidas e esforço mínimo. Refiro-me neste caso, às instituições públicas que tutelam o Forte da Graça cuja iniciativa para alterar a situação aqui descrita é mínima e secundária, até porque não existe pressão das classes interessadas na renovação do Forte para que tal aconteça.

Esgotado o sistema político, permanece a outra parte do poder democrático, a que se organiza e exige, que protesta, que provoca o debate, que provoca a solução. É caso para perguntar, onde estão as manifestações civis de protesto contra a situação do Forte? Onde estão as associações que divulgam a história e a situação actual do Forte junto da população para adquirir consenso e interesse pela causa? Onde estão os debates nas escolas, nos pavilhões da cidade (Town Hall meetings, como se diz nos EUA) para encontrar opções, vias de actuação? Onde estão as iniciativas para recolha de fundos? Onde está o assumir da liberdade para agir? Onde está alguma coisa? Tudo isto pode e deve ser feito por cidadãos independentes! Atendendo à realidade, as respostas a estas perguntas encontram-se provavelmente algures entre o conforto de um sofá e o ecrã de um plasma, agarradas a um “licor” que estava no bar, e hipotecadas no leasing de um carro e a todos os outros hábitos mundanos importantes para o status quo típico de pseudo neo-burgueses.

Num país que muitos caracterizam como pobre e onde está interiorizado o “Discurso do Coitadinho”, a pobreza, a julgar por este caso, aparentemente, não é material, e “os Coitadinhos” já estão todos enterrados. Se tal monumento estivesse em Espanha, França, Reino Unido e por aí, com toda a certeza teria milhões de visitantes anuais e estaria no enquadrado do desenvolvimento social, cultural e claro está, económico das populações, não por uma acção exclusiva dos órgãos de poder mas porque as populações “mexem-se” para fazer algo em prol de causas como esta ou pelo menos para exigir que se faça.

Relembrar: à medida que a civilização avança, tornamo-nos cada vez mais responsáveis não só pelo que fazemos, mas sobretudo pelo que NÂO FAZEMOS.

* Agradecimentos ao João Luis Pestana pela cedência das fotografias.

sábado, 15 de novembro de 2008

O Menino Astronauta - Epílogo

A história do “Menino Astronauta” pode descrever a histórias de muitos jovens e criança que veêm os seus sonhos e aspirações serem limitadas à nascença. O “Menino Astronauta” enfrentou os dois tipos de dificuldades comuns na luta pelo progresso individual. Por um lado, a realidade física adversa, resultante do facto de viver num espaço e tempo distantes do espaço e do tempo em que os seus sonhos se concretizavam. Por outro lado, a agressividade da realidade psicológica que contraía o seu espaço para imaginar em consequência da ausência de pessoas que ajudem a expandir horizontes e não a contrai-los até a distância da porta de casa.

Se o primeiro grupo de dificuldades é inerente à nossa existência física, o segundo grupo pode ser minimizado através de todo peso da história que temos atrás de nós e com a dinâmica do mundo actual. Os horizontes criados e os caminhos para esses mesmos horizontes são talvez dos maiores legados que cada homem pode deixar. Cabe por isso a cada um de nós procurar, abrir e expandir os horizontes, sejam os nossos, sejam de qualquer outro ser humano. O mais importante quase nunca é atingir esses limites, mas sim o semear dos caminhos, pois no mundo das ideias não há nada que não seja colhido…

domingo, 9 de novembro de 2008

O Menino Astronauta III

O Outono é talvez a estação do ano mais cantada pelos poetas. Os primeiros ventos de Outono têm o poder de limpar os excessos e devaneios do Verão, polindo os contornos do nosso interior criados pelas vivências e libertação descontrolada de emoções, pensamentos e desejos. Ao Outono só subsiste aquilo que tem substância física e aquilo que ‘e estrutural. Tudo o resto é substituído e regenerado. O Outono é portanto a estação que selecciona quais os sonhos que são o suficientes “reais” para resistir e para florescerem noutras estações.

As aulas haviam recomeçado e os ventos trouxeram a realidade. Havia menos tempo para a imaginação mas mais para os outros sentidos. O equilíbrio entre os sentidos e a imaginação é fundamental para uma personalidade forte. O sonho do astronauta continuava a gravitar em torno da imaginação. A gravidade já não era tão intensa mas continuava lá. Não é fácil quando o mundo à nosso volta gira em direcções contrárias manter os nossos desejos. Neste caso, tratava-se disso. Os professores, a família, os amigos tinham ambições e comportamentos diferentes e o difícil, mesmo para os adultos, é navegar contra a maré na procura da individualidade.

Passado algum tempo chegou aquele dia em que tempos de fazer a primeira reflexão sobre aquilo que queremos. Era o dia da em que a turma tinha que redigir a composição que todos tiveram que redigir alguma vez, intitulada”Quando crescer quero ser…”! A oportunidade era ideal para mostrar o sonho que o andava a inquietar. Procurou toda convicção que era possível obter e com o lápis bem pressionado exibiu o seu sonho. No fim pensou que tinha um dado um passo importante e sorriu quando entregou a composição.

Na manhã seguinte o professor trouxe as composições já corrigidas. Quando passou pela mesa do aluno “astronauta” abordou-o.
-- Está muito bem escrita a composição. É este o teu sonho, ser astronauta? - questionou o professor.
-- É sim, acho que é o que mais quero. – respondeu o aluno.
-- É um bom sonho sim senhor. Não há dúvida disso! E por outro lado qual a profissão que gostavas de ter? – questionou o professor.

domingo, 2 de novembro de 2008

O Menino Astronauta II

A manhã despertou e com ela a energia gerada pelo percorrer intenso dos mundos e submundos dos sonhos, que verdade seja dita, são mundos e submundos que se encontram em alguma parte do universo, e como tal sob este ponto vista, são também lugares reais e físicos, ajudou ao sorriso matinal e ao espreguiçar sofrido.

Os sonhos não alteram os acontecimentos mas transformam o Homem e este sim tem o poder de alterar o mundo em redor. Esse poder é exagerado pelo sonhos que preparam o espírito para a execução desde o mais pequeno gesto até às grandes façanhas.

Essa manhã era uma dessas manhã onde a electricidade percorre o corpo com mais intensidade e tudo parece possível de se realizar. O sonho ilumina o Homem e o Homem ilumina o mundo com as suas acções. Nesse levantar estava já a vontade de realizar o seu sonho: “Navegar até aos limites do Espaço”. O primeiro passo foi a simples e imediata visita à biblioteca local.

Na biblioteca local a realidade a que alguém determinou o papel de desafiadora dos sonhos, mostrou a sua primeira face. A bibliotecária quando indagada sobre livros “espaciais” não soube responder e encaminhou o jovem para a secção das crianças. A bibliotecária não compreendia que a imaginação de um jovem e a sua “sede” não pode ser compartimentada, muito menos numa secção de crianças. A busca aí foi infrutífera, os livros iam desde as enciclopédias de banda desenhada aos contos infantis para dormir e que ensinam a sonhar. Mas este já não era o caso.

Da secção infantil à secção “adulta” foi um passo. Aqui o problema era encontrar algo de objectivo no meio de tanta variedade de temas. Os romances “empurravam” os livros científicos para as prateleiras mais escondidas. Depois de algumas horas a abrir e fechar livros a exaustão chegou e o resultado era nulo pois não havia nenhum livro sobre astronomia, astronautas, estrelas, galáxias. Apenas os da secção infantil tratavam esses temas.

As semanas foram passando e visitas à biblioteca e livrarias tornaram-se assíduas sem que no entanto houvesse frutos que continuassem a alimentar o sonho. Numa época em que as fontes de conhecimento estavam limitadas ao livros e às pessoas, e numa “cidade-aldeia” mal alimentada de conhecimento, restavam as pessoas e as suas orientações. Dai a pouco tempo as aulas iriam recomeçar...

(Continua)

terça-feira, 14 de outubro de 2008

O Menino Astronauta I

Era mais uma daquelas noites de Verão da infância onde o calor é inimigo do sono e os sonhos têm que ser produzidos com os sentidos despertos. Todas as noites das recordações de infância são assim, noites calorosas, inundadas pelos risos das crianças que se juntam e brincam, pelos sons dos grilos e da natureza que nesta altura do ano se manifesta mais alegremente, e pelo céu, esse céu cujo brilho e luminosidade apenas se encontra nas recordações de infância. É o brilho da infância, do despertar, da ilusão e do sonho...Esta era mais uma dessas noites!

Da janela do seu quarto o seu olhar erguia-se para as estrelas e o seu coração contemplava todo o universo. O sonho começava a comandar os pensamentos. Já não havia limites. O céu brilhava como nunca nos seus olhos, desde a lua cheia, à ursa maior, à ursa menor, passando pela Cassiopeia, por Oríon até Andromeda, todos os caminhos procuravam o desejo da totalidade, o desejo do saber...

A noite adormeceu. Com ela mais um sonho, mais uma viagem...

(Continua)

domingo, 21 de setembro de 2008

O "Nós" que tem que ser "Vós"

O mito Messiânico tem por base a crença na vinda de um enviado que terá como causa a libertação de um povo oprimido. O mito messiânico foi transposto para a cultura portuguesa através do mito Sebástico. O mito Sebástico ou Sebastianismo surgiu na cultura popular após o desaparecimento do jovem rei D.Sebastião a 4 de Agosto de 1578 na batalha de Alcácer-Quibir e que resultaria na perda da independência nacional dois anos depois em 1580 para a coroa espanhola por falta de herdeiros. Esta crença pretende caracterizar a espera, o regresso, daquele que restaure a soberania e tudo o que perdeu com ela. Os sentimentos causados por essa espera são a angústia, a latência, o tédio, a monotonia e, consequentemente, a inacção.

O sebastianismo inscreveu-se na matriz racional do povo Português e persistiu até aos nossos dias, assumindo várias formas, mas mantendo sempre a figura do regresso do Salvador da Pátria. Este foi aliás o aproveitamento feito pelo regime do Estado Novo para a mistificação da figura do Salazarismo, e foi corporizado de tal forma, que nos 2 últimos anos da sua vida, entre 1968 e 1970, mesmo estando debilitado fisicamente como resultado de um acidente que o deixou incapacitado, Salazar continuou a ser apresentado pelo regime como o Presidente do Conselho. O vazio causado pelo mito Sebástico tinha que continuar a ser preenchido no imaginário das pessoas.

Nos dias de hoje, o mito permanece e pode facilmente encontrar-se a sua influência nos discursos políticos. A forma mais directa de utilização do mito é a utilização do “Nós” como figura principal do discurso político: “Nós [partido político] vamos resolver os vossos [dos cidadãos] problemas...” . Numa sociedade onde as pessoas não se sentem donas do próprio destino, soa como canção de embalar, que não é mais que uma versão da célebre Canção do Bandido: “Ocupai-vos dos Vossos prazeres, que Nós ocupar-nos-emos dos vossos problemas!”. Como consequência aquele que melhor entoar esta canção torna-se governante, o que representa um critério de escolha muito medíocre, e que por um lado explica a eleição de governantes, como por exemplo, e apenas para citar um caso recente, de um primeiro-ministro que mesmo cabulando mais que o maior dos cábulas e fazendo exames em casa não terminou o curso em condições (tecnicamente o curso em questão não foi acabado). Podiam ser citados muitos outros casos da direita à esquerda, da esquerda à direita de representantes do povo que não cumprem os “mínimos olímpicos” que deviam ser exigidos por esse mesmo povo.

O panorama alterar-se-à quando o discurso cómodo para todos do “Nós” for assumido como o discurso do “Vós”: “Vós [cidadãos] terei que escolher o vosso caminho e percorrê-lo afastando as pedras!”. O discurso deverá ser assumido no mínimo pelos cidadãos que não podem esperar mais enquanto a pobreza aumenta, a população envelhece e a criminalidade e o desemprego alastram, tendo clara a consciência de que aquele que disser “Eu consigo resolver os vossos problemas nesta sociedade de relações complexas”, ou é mentiroso ou é ignorante!

Para aqueles que procuram e exigem soluções aqui ficam sugestões que podem melhorar a parcela de terra à vossa volta, e que devem ser criticadas/acrescentadas por todos aqueles lerem este texto, sugestões essas sob o lema “É preciso haver uma lei para obrigar as pessoas a reciclar?”:

  1. Reciclar e promover o uso de objectos em segunda mão;
  2. Não recusar entrar em museus, castelos e espectáculos de artistas portugueses apenas porque são pagos;
  3. Fazer o esforço de alternar o transporte público com transporte particular, e se possível usar bicicletas para deslocações;
  4. Pedir sempre que possível factura por serviços recebidos;
  5. Poupar em cigarros e cafés;
  6. Poupar combustível reduzindo as acelerações.
  7. Aprender línguas estrangeiras;
  8. Ler livros, se possível não apenas romances, e se possível também livros noutros idiomas;
  9. Mudar de canal quando o telejornal abre com noticias de futebol;
  10. Dar sangue.

Liberdade, Onde Estás? Quem Te Demora

Liberdade, onde estás? Quem te demora?
Quem faz que o teu influxo em nós não Caia?
Porque (triste de mim!) porque não raia
Já na esfera de Lísia a tua aurora?

Da santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo que desmaia.
Oh! Venha... Oh! Venha, e trémulo descaia
Despotismo feroz, que nos devora!

Eia! Acode ao mortal, que, frio e mudo,
Oculta o pátrio amor, torce a vontade,
E em fingir, por temor, empenha estudo.

Movam nossos grilhões tua piedade;
Nosso númen tu és, e glória, e tudo,
Mãe do génio e prazer, oh Liberdade!

Manuel Maria de Barbosa Du Bocage (Setúbal, 1765 – Lisboa, 1805)

domingo, 14 de setembro de 2008

Quando foi a última vez que olhou para o céu?



Não deve haver fotografia mais simples que aquela que pretender captar simplesmente o céu que nos envolve. Independentemente do ângulo, a perspectiva, tal é a imensidão, surge sempre de forma idêntica como um horizonte longínquo mas libertador.

Esta fotografia simples como qualquer outra é para todos aqueles que durante todos os seus dias, e quem diz dias, pode em alguns casos afirmar ao longo de semanas, meses, anos, não consegue sob ângulo nenhum, incluir nas suas vivências esta visão simples do nosso Mundo. No Portugal de hoje, muitos são aqueles que caminham ao longo dos dias com uma postura inclinada, qual homo erectus, sinónimo de submissão, desistência, inacção. As causas destes movimento por inércia e que no fim resulta em seres que mais não são que “escravos dos acontecimentos” são várias e inúmeras mas todas ultrapassáveis. Nos dias de hoje a afirmação pessoal surge na maior parte dos casos por factores como o estatuto social, a aparência física, o compadrio, a bajulação e muitos outros factores superficiais sem muito conteúdo, que são apesar de tudo elementos da chamada “inteligência social”. No entanto são factores circunstanciais e de alguma desigualdade que resultam na maior parte dos casos em submissão da inteligência e vontade própria. Nem todos têm a capacidade e/ou a oportunidade de cometer tal sacrifício, resultando daí muitas posturas encurvadas de resignação.

A resignação deve ser dar lugar à confiança e à autodeterminação para que a inteligência, a cultura, a dedicação, o esforço e o trabalho sejam a base da afirmação das ideias e a libertação das acções. É tempo de soerguer, de fechar o punho, inclinar a cabeça para o céu, sentir o vento, fechar os olhos e sentir aquela “estranha leveza do ser” que nos eleva acima das vivências comuns e diminui o gigante mundo à nossa volta à dimensão de que tudo parece possível. Este é o nosso tempo...

sábado, 6 de setembro de 2008

Homenagem aos Atletas Olímpicos

Queria com este texto, e face ao que foi o julgamento da "participação oral" dos atletas portugueses nos passados jogos olímpicos, prestar uma pequena e devida homenagem a esses mesmos atletas.

Portugal contribuiu com 77 atletas para os Jogos Olímpicos de Pequim 2008. Nessa comitiva encontram-se atletas profissionais, atletas amadores que conciliam o desporto com outra actividade profissional ou que suspendem carreiras profissionais, e até estudantes. A maior parte desses atletas são ignorados pelo público em geral no que concerne à sua prática desportiva e as competições em que participam. No entanto, de 4 em 4 anos, querendo ou não, é-lhes atribuída a responsabilidade de preencher parte do espaço oco do “Orgulho da Pátria”, preceito característico do regime do Estado Novo, e em caso contrário, é necessário o pedido de desculpas. Convenhamos que, justificadamente ou não, e atendendo às estatísticas, a Pátria não faz muito por essas modalidades, designando ainda essas modalidades como "Modalidades Amadoras".

Num meio onde a prática desportiva está praticamente monopolizada pelo futebol, o acesso a essas modalidades é limitado, especialmente nas zonas interiores do país. Essas limitações vão desde a falta de capacidade das escolas de diversificarem as opções do desporto escolar, à inexistência de associações desportivas que disponibilizem as modalidades, poucos treinadores com qualificação e experiência, até às limitações financeiras. Mas porque a vontade humana supera muitos obstáculos, tudo o referido atrás é em muitos casos superado através do prazer e da dedicação das pessoas envolvidas. No entanto, há um elemento essencial para a progressão em qualquer modalidade que não existe em Portugal, que é o da COMPETIÇÃO. A maior parte das modalidades apresenta níveis competitivos baixos e desiguais ao nível do país. A razão principal é a falta de atletas a competir. Não há talento que se conserve sem competição e são muitos os talentos que se acabam por perder. As modalidades ficam mais pobres e menos visíveis para que outros as possam considerar nas suas opções, e no limite são horizontes que se vão fechando.

Tudo isto reveste o esforço de todos aqueles que atingiram os JO de maior importância, principalmente o dos mais amadores, porque para além das marcas desportivas que outros jovens vão considerar na sua progressão, são referências que surgem no horizonte para a prática dessas modalidades. O desporto é outra forma de conhecimento que nos ensina sobretudo a nobre e natural arte de competir. Tal como devem ser estudados vários géneros literários, também é saudável e recomendado praticar várias modalidades. Curtos ou não, estes são os caminhos que estes atletas ajudam a abrir. Resta quem os queira percorrer…

terça-feira, 26 de agosto de 2008

A Mudança que queres ver no Mundo deve começar por Ti

O desejo de espalhar a palavra faz nascer todos os dias milhares de blogs. Aqui nasce mais um apenas com o desejo de existir, de ser...

Todos os dias se ouvem desabafos, comentários, análises, criticas, supercriticas sobre a incultura do povo português, a sua falta de responsabilidade civil, os maus hábitos sociais, o muito que se come, o pouco que se faz, os atrasos, a pouca produtividade, dos mais variados ângulos, perspectivas, quadrantes, de tal forma que entre aqueles que expressam estes pensamentos e aqueles que são o objecto destes pensamentos não resta mais nenhum português. Todos estes comportamentos, no quais provavelmente também se deve igualmente incluir os actos acima citados, são justificações para as nossas "crises", ou como se chamam nos dias de hoje as chamadas crises económicas (em séculos anteriores as crises tinham outros nomes), que aparentemente determinam o modo de viver. Sendo que o Homem viveu em crise desde o tempo em que macacos que deram origem aos primeiros Hominídeos viviam nas árvores (caso contrário não teriam baixado das árvores para procurar alimento), este é uma paradigma da existência humana, o qual é génese da sua sobrevivência e da sua evolução como espécie.

Mais do que opinar e contra-opinar sobre a causa, as consequências e real estado das coisas no caso português, que mais não seria do que acrescentar mais um conjunto de palavras sem objectividade e sem conteúdo ao conjunto existente de opiniões pessoais e de senso-comum, o que se pretende aqui realçar é a evidente LETARGIA na qual sobrevivem a maior parte das pessoas deste país. Numa nação onde os portugueses são emigrantes dentro do próprio estado e onde não provocam uma revolução há seis séculos, e na era do google, do youtube, dos blogs, globalização, do turismo espacial, da revolução (ou afirmação) sexual da mulher, das nanotecnologias, dos novos desafios tecnológicos, do aquecimento global, e um sem fim de acontecimentos que ocorrem nesta era, a participação de Portugal e dos portugueses, enquanto cidadãos do mundo é mínima. Acima de tudo a inacção, a falta de confiança e coragem assumiram o controlos dos actos por cá. Num país onde os jovens não imaginam, não sonham e onde os adultos não idealizam ou romanceiam, as vivências tornam-se demasiado homogéneas e as pessoas demasiado parecidas. Tudo isto reflecte-se nos horizontes que os jovens traçam e que se reduzem a querer ser uma estrela de futebol ou uma vedeta do mundo da música sem que haja o esforço por dar chutos na bola ou aprender um instrumento.

Esta é talvez uma das épocas mais desafiantes para se viver e onde o Universo das acções é maior, e é por isso triste que num país com mais 300 dias de Sol por ano, com terras férteis, com praias, montanhas e rios, tendo o progresso e a experiência de outros povos como vizinhos, com tanta história feita, haja tão pouca história a querer ser feita. Os horizontes são poucos e são reduzidos, e perante uma classe intelectual silenciosa e uma classe política vazia de conteúdo, apenas sobra a superação individual para a criação de novos horizontes.

Com estas publicações gostaria-se apenas de tentar mostrar outras realidades, outras possibilidades, outros alargamentos, outros "ares" ...

!Próximo texto: 06-09-2008.