O mito Messiânico tem por base a crença na vinda de um enviado que terá como causa a libertação de um povo oprimido. O mito messiânico foi transposto para a cultura portuguesa através do mito Sebástico. O mito Sebástico ou Sebastianismo surgiu na cultura popular após o desaparecimento do jovem rei D.Sebastião a 4 de Agosto de 1578 na batalha de Alcácer-Quibir e que resultaria na perda da independência nacional dois anos depois em 1580 para a coroa espanhola por falta de herdeiros. Esta crença pretende caracterizar a espera, o regresso, daquele que restaure a soberania e tudo o que perdeu com ela. Os sentimentos causados por essa espera são a angústia, a latência, o tédio, a monotonia e, consequentemente, a inacção.
O sebastianismo inscreveu-se na matriz racional do povo Português e persistiu até aos nossos dias, assumindo várias formas, mas mantendo sempre a figura do regresso do Salvador da Pátria. Este foi aliás o aproveitamento feito pelo regime do Estado Novo para a mistificação da figura do Salazarismo, e foi corporizado de tal forma, que nos 2 últimos anos da sua vida, entre 1968 e 1970, mesmo estando debilitado fisicamente como resultado de um acidente que o deixou incapacitado, Salazar continuou a ser apresentado pelo regime como o Presidente do Conselho. O vazio causado pelo mito Sebástico tinha que continuar a ser preenchido no imaginário das pessoas.
Nos dias de hoje, o mito permanece e pode facilmente encontrar-se a sua influência nos discursos políticos. A forma mais directa de utilização do mito é a utilização do “Nós” como figura principal do discurso político: “Nós [partido político] vamos resolver os vossos [dos cidadãos] problemas...” . Numa sociedade onde as pessoas não se sentem donas do próprio destino, soa como canção de embalar, que não é mais que uma versão da célebre Canção do Bandido: “Ocupai-vos dos Vossos prazeres, que Nós ocupar-nos-emos dos vossos problemas!”. Como consequência aquele que melhor entoar esta canção torna-se governante, o que representa um critério de escolha muito medíocre, e que por um lado explica a eleição de governantes, como por exemplo, e apenas para citar um caso recente, de um primeiro-ministro que mesmo cabulando mais que o maior dos cábulas e fazendo exames em casa não terminou o curso em condições (tecnicamente o curso em questão não foi acabado). Podiam ser citados muitos outros casos da direita à esquerda, da esquerda à direita de representantes do povo que não cumprem os “mínimos olímpicos” que deviam ser exigidos por esse mesmo povo.
O panorama alterar-se-à quando o discurso cómodo para todos do “Nós” for assumido como o discurso do “Vós”: “Vós [cidadãos] terei que escolher o vosso caminho e percorrê-lo afastando as pedras!”. O discurso deverá ser assumido no mínimo pelos cidadãos que não podem esperar mais enquanto a pobreza aumenta, a população envelhece e a criminalidade e o desemprego alastram, tendo clara a consciência de que aquele que disser “Eu consigo resolver os vossos problemas nesta sociedade de relações complexas”, ou é mentiroso ou é ignorante!
Para aqueles que procuram e exigem soluções aqui ficam sugestões que podem melhorar a parcela de terra à vossa volta, e que devem ser criticadas/acrescentadas por todos aqueles lerem este texto, sugestões essas sob o lema “É preciso haver uma lei para obrigar as pessoas a reciclar?”:
- Reciclar e promover o uso de objectos em segunda mão;
- Não recusar entrar em museus, castelos e espectáculos de artistas portugueses apenas porque são pagos;
- Fazer o esforço de alternar o transporte público com transporte particular, e se possível usar bicicletas para deslocações;
- Pedir sempre que possível factura por serviços recebidos;
- Poupar em cigarros e cafés;
- Poupar combustível reduzindo as acelerações.
- Aprender línguas estrangeiras;
- Ler livros, se possível não apenas romances, e se possível também livros noutros idiomas;
- Mudar de canal quando o telejornal abre com noticias de futebol;
- Dar sangue.