sábado, 29 de novembro de 2008

OCaus à solta

As recentes manifestações dos professores tiveram o condão de mostrar uma nova atitude que até aqui apenas tinha sido notada pontualmente. Independentemente do conteúdo dos protestos e dos meios que foram utilizados, e sem querer emitir opinião sobre qual dos lados tem a maior quota de razão, uma vez que a razão nunca está toda só de um lado, o que sobressai nestes acontecimentos é a sensação de poder que de repente parece caracterizar esta classe profissional. Tal sensação sobressaiu da mesma forma nas recentes manifestações dos camionistas, nos protestos dos farmacêuticos (neste caso os meios foram outros). Talvez porque foram movimentos que acabaram por sair do controlo dos sindicatos e cuja iniciativa acabou por ser determinada por um conjunto de pessoas que se organizou espontaneamente por uma causa comum, o facto é que parece que as pessoas estão a encontrar uma fonte poder. Aparentemente, está-se a chegar à conclusão que através da organização colectiva, juntando esforços, defendendo posições de forma conjunta, planeada e persistente, é possível ter impacto/influência nas decisões a tomar e a implementar pelos órgãos de poder. Depois de 35 anos do sistema que a generalidade classifica como democrático, saúda-se no mínimo esta progressão, que não é mais do que é uma responsabilidade inerente à criação da democracia: a da participação activa de todos. Que ninguém se esconda e que ninguém cale a sua voz! Nunca é tarde para começar...

Logicamente, e assim se espera, a qualidade do protesto e da exigência, incluindo dos meios utilizados, irá ser refinada e desembrutecida. Da mesma forma, a qualidade das medidas e o processo de as implementar terá que ser melhor por parte dos governantes para evitar possíveis oposições. Tudo isto dependerá sempre da “cultura”daqueles que protestam. No entanto, esta é claramente a dialéctica que se pretende!

domingo, 23 de novembro de 2008

Olhar o Caus - Angola, ame-a ou deixe-a em paz

Aquilo que o manto do "ouro negro" não deixa contemplar..
1) Barra do Kwanza










2) Pôr-do-sol - Cabinda_______ 3)Terra vermelha - bocoio







4)Quedas de Malange; 5) Rio Kwanza; 6) Estação das chuvas - Matala


7) Pôr-do-Sol - Luanda

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Olhar o Caus



A crise no alentejo (R.Patrocinio)
Hora de ponta no Alentejo (R.Patrocinio)
Olhares planos (R. Patrocinio) ___ _____



segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Forte da Graça - forte da apatia


O Forte da Graça está localizado a 3 Km a norte da cidade fronteiriça de Elvas, no cimo do chamado Monte da Graça, a 368 m de altitude. Foi mandado construir em 1763 pelo Marechal Inglês Wilhelm von Schaumburg-Lippe, conde Lippe, que tinha sido chamado pelo Marquês de Pombal para reorganizar o exército português e a praça-forte de Elvas face ao perigo da invasão espanhola, latente desde a Guerra da Restauração de 1640 em que a independência portuguesa foi reconquistada. As obras duraram até ao reinado de D.Maria I, sendo inaugurado em 1792. Desde então, Elvas nunca mais foi tomada nas sucessivas guerras que decorreram contra o vizinho espanhol - Guerra das Laranjas (1801) e Guerra Peninsular (1881).

Considerado uma obra prima de arquitectura militar, qual estrela que caiu do céu e se fundiu com o cimo do monte, e apesar de todo o património cultural e histórico que carrega, e que tão importante foi para o desenrolar da nossa história, o Forte da Graça encontra-se desde há vários anos fechado ao público e num estado de abandono. O abandono é tal que muitos elvenses não têm conhecimento do desenho que se pode vislumbrar numa perspectiva aérea. Apenas reconhecem a torre que se ergue no centro do monte e as encostas angulares. Como se conclui, este abandono não é apenas físico, é também um desligar da história e dos lugares que definem o nosso “código genético” da nossa cultura.

Por outro lado, a história ensina-nos que todos os governos, quando assentes sob um poder dito tradicional (i.e., um poder aceite por todos como legítimo e sem contestação quanto à sua natureza), como é o caso do poder democrático e das instituições que gerem esse poder, funcionam em regime de auto-preservação, ou seja, a prioridade primária é a manutenção das instituições e dos seus representantes, enquanto que a satisfação das exigências das pessoas, quando não colide com a preservação do sistema, terá medidas reduzidas e esforço mínimo. Refiro-me neste caso, às instituições públicas que tutelam o Forte da Graça cuja iniciativa para alterar a situação aqui descrita é mínima e secundária, até porque não existe pressão das classes interessadas na renovação do Forte para que tal aconteça.

Esgotado o sistema político, permanece a outra parte do poder democrático, a que se organiza e exige, que protesta, que provoca o debate, que provoca a solução. É caso para perguntar, onde estão as manifestações civis de protesto contra a situação do Forte? Onde estão as associações que divulgam a história e a situação actual do Forte junto da população para adquirir consenso e interesse pela causa? Onde estão os debates nas escolas, nos pavilhões da cidade (Town Hall meetings, como se diz nos EUA) para encontrar opções, vias de actuação? Onde estão as iniciativas para recolha de fundos? Onde está o assumir da liberdade para agir? Onde está alguma coisa? Tudo isto pode e deve ser feito por cidadãos independentes! Atendendo à realidade, as respostas a estas perguntas encontram-se provavelmente algures entre o conforto de um sofá e o ecrã de um plasma, agarradas a um “licor” que estava no bar, e hipotecadas no leasing de um carro e a todos os outros hábitos mundanos importantes para o status quo típico de pseudo neo-burgueses.

Num país que muitos caracterizam como pobre e onde está interiorizado o “Discurso do Coitadinho”, a pobreza, a julgar por este caso, aparentemente, não é material, e “os Coitadinhos” já estão todos enterrados. Se tal monumento estivesse em Espanha, França, Reino Unido e por aí, com toda a certeza teria milhões de visitantes anuais e estaria no enquadrado do desenvolvimento social, cultural e claro está, económico das populações, não por uma acção exclusiva dos órgãos de poder mas porque as populações “mexem-se” para fazer algo em prol de causas como esta ou pelo menos para exigir que se faça.

Relembrar: à medida que a civilização avança, tornamo-nos cada vez mais responsáveis não só pelo que fazemos, mas sobretudo pelo que NÂO FAZEMOS.

* Agradecimentos ao João Luis Pestana pela cedência das fotografias.

sábado, 15 de novembro de 2008

O Menino Astronauta - Epílogo

A história do “Menino Astronauta” pode descrever a histórias de muitos jovens e criança que veêm os seus sonhos e aspirações serem limitadas à nascença. O “Menino Astronauta” enfrentou os dois tipos de dificuldades comuns na luta pelo progresso individual. Por um lado, a realidade física adversa, resultante do facto de viver num espaço e tempo distantes do espaço e do tempo em que os seus sonhos se concretizavam. Por outro lado, a agressividade da realidade psicológica que contraía o seu espaço para imaginar em consequência da ausência de pessoas que ajudem a expandir horizontes e não a contrai-los até a distância da porta de casa.

Se o primeiro grupo de dificuldades é inerente à nossa existência física, o segundo grupo pode ser minimizado através de todo peso da história que temos atrás de nós e com a dinâmica do mundo actual. Os horizontes criados e os caminhos para esses mesmos horizontes são talvez dos maiores legados que cada homem pode deixar. Cabe por isso a cada um de nós procurar, abrir e expandir os horizontes, sejam os nossos, sejam de qualquer outro ser humano. O mais importante quase nunca é atingir esses limites, mas sim o semear dos caminhos, pois no mundo das ideias não há nada que não seja colhido…

domingo, 9 de novembro de 2008

O Menino Astronauta III

O Outono é talvez a estação do ano mais cantada pelos poetas. Os primeiros ventos de Outono têm o poder de limpar os excessos e devaneios do Verão, polindo os contornos do nosso interior criados pelas vivências e libertação descontrolada de emoções, pensamentos e desejos. Ao Outono só subsiste aquilo que tem substância física e aquilo que ‘e estrutural. Tudo o resto é substituído e regenerado. O Outono é portanto a estação que selecciona quais os sonhos que são o suficientes “reais” para resistir e para florescerem noutras estações.

As aulas haviam recomeçado e os ventos trouxeram a realidade. Havia menos tempo para a imaginação mas mais para os outros sentidos. O equilíbrio entre os sentidos e a imaginação é fundamental para uma personalidade forte. O sonho do astronauta continuava a gravitar em torno da imaginação. A gravidade já não era tão intensa mas continuava lá. Não é fácil quando o mundo à nosso volta gira em direcções contrárias manter os nossos desejos. Neste caso, tratava-se disso. Os professores, a família, os amigos tinham ambições e comportamentos diferentes e o difícil, mesmo para os adultos, é navegar contra a maré na procura da individualidade.

Passado algum tempo chegou aquele dia em que tempos de fazer a primeira reflexão sobre aquilo que queremos. Era o dia da em que a turma tinha que redigir a composição que todos tiveram que redigir alguma vez, intitulada”Quando crescer quero ser…”! A oportunidade era ideal para mostrar o sonho que o andava a inquietar. Procurou toda convicção que era possível obter e com o lápis bem pressionado exibiu o seu sonho. No fim pensou que tinha um dado um passo importante e sorriu quando entregou a composição.

Na manhã seguinte o professor trouxe as composições já corrigidas. Quando passou pela mesa do aluno “astronauta” abordou-o.
-- Está muito bem escrita a composição. É este o teu sonho, ser astronauta? - questionou o professor.
-- É sim, acho que é o que mais quero. – respondeu o aluno.
-- É um bom sonho sim senhor. Não há dúvida disso! E por outro lado qual a profissão que gostavas de ter? – questionou o professor.

domingo, 2 de novembro de 2008

O Menino Astronauta II

A manhã despertou e com ela a energia gerada pelo percorrer intenso dos mundos e submundos dos sonhos, que verdade seja dita, são mundos e submundos que se encontram em alguma parte do universo, e como tal sob este ponto vista, são também lugares reais e físicos, ajudou ao sorriso matinal e ao espreguiçar sofrido.

Os sonhos não alteram os acontecimentos mas transformam o Homem e este sim tem o poder de alterar o mundo em redor. Esse poder é exagerado pelo sonhos que preparam o espírito para a execução desde o mais pequeno gesto até às grandes façanhas.

Essa manhã era uma dessas manhã onde a electricidade percorre o corpo com mais intensidade e tudo parece possível de se realizar. O sonho ilumina o Homem e o Homem ilumina o mundo com as suas acções. Nesse levantar estava já a vontade de realizar o seu sonho: “Navegar até aos limites do Espaço”. O primeiro passo foi a simples e imediata visita à biblioteca local.

Na biblioteca local a realidade a que alguém determinou o papel de desafiadora dos sonhos, mostrou a sua primeira face. A bibliotecária quando indagada sobre livros “espaciais” não soube responder e encaminhou o jovem para a secção das crianças. A bibliotecária não compreendia que a imaginação de um jovem e a sua “sede” não pode ser compartimentada, muito menos numa secção de crianças. A busca aí foi infrutífera, os livros iam desde as enciclopédias de banda desenhada aos contos infantis para dormir e que ensinam a sonhar. Mas este já não era o caso.

Da secção infantil à secção “adulta” foi um passo. Aqui o problema era encontrar algo de objectivo no meio de tanta variedade de temas. Os romances “empurravam” os livros científicos para as prateleiras mais escondidas. Depois de algumas horas a abrir e fechar livros a exaustão chegou e o resultado era nulo pois não havia nenhum livro sobre astronomia, astronautas, estrelas, galáxias. Apenas os da secção infantil tratavam esses temas.

As semanas foram passando e visitas à biblioteca e livrarias tornaram-se assíduas sem que no entanto houvesse frutos que continuassem a alimentar o sonho. Numa época em que as fontes de conhecimento estavam limitadas ao livros e às pessoas, e numa “cidade-aldeia” mal alimentada de conhecimento, restavam as pessoas e as suas orientações. Dai a pouco tempo as aulas iriam recomeçar...

(Continua)