Por estes dias, onde a palavra a crise inunda as nossas comunicações, os economistas são as pessoas mais solicitadas, os seus blogs os mais visitados, as suas opiniões as mais lidas e as suas posições as mais consideradas. Para além disso, temos ainda os relatórios económicos do Governo, do INE, do Banco de Portugal, da UE, do Banco Central Europeu, da OCDE e de outras organizações sem rosto, como o FMI, a OMC e o Banco Mundial. Na maior parte destes casos, surgirão ainda os relatórios com revisões de todas essas instituições para as previsões incorrectas. Curiosamente, e apesar da enormidade de recursos humanos e financeiros disponíveis no conjunto de todas essas instituições, imagine-se já agora o que seria se tais recursos fossem aplicados na medicina, matemática, física, biologia, química e áreas de desenvolvimento tecnológico, as previsões e estimativas que apresentam raramente coincidem.
Por outro lado, falar de economia em Portugal tornou-se num acto corrente, algo análogo ao falar sobre a Austrália: muitos falam sobre a Austrálias mas foram poucos os que efectivamente lá estiveram. Da mesma forma, muitos sustentam opiniões sobre a economia, mas poucos foram os que leram um livro sobre o tema! No entanto, e apesar da recente crise ter provocado medidas completamente imprevisíveis como por exemplo, a nacionalização de bancos nos EUA por um Governo de extrema-direita, ninguém parece pôr em causa os fundamentos da teoria económica (não confundir com a regulamentação dos mercados financeiros), cujos fundamentos estão na base das orientações políticas do pós-guerra e foi a “arma” preferencial usada pelo EUA para a expansão da sua influência. Aliás, parece mais fácil pôr em causa um qualquer Deus, a pôr em causa qualquer um desses fundamentos, tal é o misticismo que se criou à sua volta. Mas a pergunta que se coloca é, com tantos "economistas" a falar e supostamente a aplicar as leis da economia, quem sobra para trabalhar e desenvolver essa teoria, de forma a criar modelos mais eficientes? Muitos concluem, entre os quais o autor deste blog, que a Economia, após 250 anos de existência da teoria , já que apenas foi considerada disciplina autónoma após a publicação de A Riqueza das Nações por Adam Smith, em 1776, ainda não se qualificou como ciência. As teorias científicas devem obedecer ao princípio Quod ubique, quod semper, quod ab omnibus, i.e., válidos em qualquer lugar, em qualquer tempo e por qualquer pessoa. A economia ainda não atingiu tal maturidade.
Quem aprofundar um pouco o conhecimento sobre Economia, irá verificar que muitas leis têm por base ainda…metáforas! O exemplo mais evidente é a metáfora da “mão invisível”, usada pelo próprio Adam Smith para descrever a evolução dos mercados. Segundo esta tese, os agentes de um mercado devem agir sempre na busca do seu auto-interesse e do lucro próprio, havendo uma mão invisível que orienta as interacções entre esses mesmos agentes de forma a produzir resultados eficientes para o mercado em geral. Tal entidade nunca foi determinada nem existe nenhum modelo matemático que sustente essa tese, mas apesar disso esta metáfora constitui um quasi postulado na Economia dos dias hoje. É caso para pensar se por acaso estas leis são revelações de uma qualquer entidade divina, ou se encontram num qualquer horizonte mágico, ou se por caso foram escritas numa tábua e guardadas numa arca há muito tempo atrás.
(continua)