Oceano Atlântico, 20 de Junho de 2009
Neste momento são 13 horas segundo o relógio do meu laptop. Perdão! Parece que passámos mais um meridiano e já só 11horas…Sob céu diurno, sobre o Oceano Atlântico Norte e em perseguição da sombra da noite que se encontra umas horas à nossa frente progredindo lentamente para Este, aqui começa o relato da viagem que vai levar “OCaus à Califórnia”. A bordo de um boeing 777 e a uma altura de 32000 pés (cerca de 10km), OCaus progride a uma velocidade de 536 Milhas/h em direcção ao seu destino, São Francisco, Califórnia. Eram 10h53m quando o avião descolou desde o aeroporto de Heathrow em Londres para uma viagem de 5360 milhas que deve demorar 11 horas.
O titulo deste relato, “OCaus na Califórnia”, começa a parecer-me desactualizado, dado as complicações para embarcar. Entre questionários online*, formulários, perguntas dos assistentes de bordo, já tive que responder 3(!) vezes à pergunta: ”Are you a terrorist?”. Questiono-me de imediato se realmente conseguirei levar “OCaus à Califórnia”? Afinal os EUA são, desde o final da Segunda Guerra Mundial, o país que mais semeia o “CAUS” por esse mundo fora, entre guerras, colapso financeiros, patrocínios de revolução, tudo em nome de uma “Ordem “mundial.
Freud quando entrou pela primeira vez nos EUA e questionado pelos serviços alfadengários se transportava algo de perigoso, nocivo com ele, respondeu: “Trago-vos a peste”. Aqui a peste era a psicanálise, o pensamento abstracto para uma cultura em que o imediato e material é extremamente importante. O relevente aqui é a reacção temerária face a culturas, pensamentos desconhecidos que Freud sabia que ia provocar e que se verificou muitas vezes ao longo da história noutras escalas.
(13h26m ou 11h26!)
Oiço Tom Jobin e Elis Regina, música suave de melodia doce para tentar harmonizar o meu pensamento com essa realidade dura que são as palavras. Ainda mais a 11km de altura com a pressão a fazer nos meus canais perinasais. Mozart uma vez disse:”Tive a inspiração até que, eis que chegaram as palavras!”.
Voltemos ao “Caus”, neste caso, ao Caus do meu estômago depois da refeição a bordo. Questiono como é que um país que consegue fabricar mísseis balísticos, que se lançados desde Londres conseguem atingir o pára-raios do Empire State Building com uma precisão inferior ao diâmetro um cabelo humano, não consegue cozinhar uma refeição nutritiva e saborosa? O tomate sabia à salada, a salada, sabia a cenoura, a cenoura sabia a batatas, as batatas sabiam ao frango, e o frango sabia a peixe. É uma arte pelos visto ao alcance de poucos. No entanto, verdade seja dita, esteve bastante bem comparativamente a outras. Apenas pretendo ser exigente com quem posso sê-lo.
Voamos sobre a Islândia. A paisagem cá em cima continua celestial mas o sono não aparece!
(??h##m)
Depois de uma pequena sesta, lancho o pequeno almoço “roubado” do hotel e aproveito para escrever mais umas linhas a 906 Km/h para assim satisfazer os meus milhões de leitores, ávidos de deliciarem-se com as minhas narrativas.
Tento traçar um plano de viagem, tal a imensidão do trajecto e a dificuldade de espalhar e pregar OCaus. O objectivo é começar em São Francisco, percorrer a Golden Gate a pé, acampar com os ursos a Este em Yosemite, descer para Sul ao longo das praias até Los Angeles e San Diego, retornar a Norte passando por Las Vegas para apostar umas 1 conto de rés, perder-me Grand Canyon e semear coentros e salsa no Death Valley. Se ainda houver força, passar por Napa, zona de vinhos a Norte de San Francisco, para provar os “esquisitos” vinhos californianos.
Apenas 2 semanas para cumprir este percurso do qual tentarei aqui dar conta tanto quanto possível.
Entretanto a noite continua inalcançavel. Não há rasto dela ou da sua penumbra.
(14h)
Aterragem no aeroporto internacional em São Francisco. O boeing desceu 36 mil pés em 10 minutos e aterrou numa pista que entra pela baía de São Francisco adentro. Os últimos quilómetros antes de chagar à pista são percorridos a uma dezenas de metro da água. Parece que vamos aterrar na água mas não!
Próximo capítulo: São Francisco
*Para viajar para os EUA, para além do passaporte electrónico e de fornecer a morada de destino nos EUA, é necessário preencher um formulário que está disponível on-line e guardar a referência desse formulário antes de partir, caso seja requerida pelos serviços de imigração americanos na alfândega