Ver e Ouvir!
domingo, 22 de março de 2009
terça-feira, 17 de março de 2009
O Freguês
O Freguês gosta de…servir-se. Desde muito cedo, esta personagem aprendeu as hábeis manobras da serventia e de tudo o que daí pode advir. As razões deste comportamento, do ponto de vista biológico, podem-se encontrar nos primeiros anos da vida deste especimen, mais concretamente na altura do seu aleitamento, uma vez que mamou até demasiado tarde e, na maioria dos casos, houve dificuldade em trocar a mama pelo biberão, surgindo assim, uma natural mamo-dependência. Aliás, ao longo do seu crescimento, este animal vai aprender outras formas de mamar, substituindo o peito da mãe, por outros, mais artificiais, que lhe vão providenciar um conforto semelhante. Começa logo na escola, onde estudar causa dor de costas e fazer cábulas faz mal à vista. O melhor é mesmo sentar-se perto do inteligente da turma e copiar, ou então, fotocopiar as cábulas de uma qualquer colega rapariga organizada.
Dentro dos grupos, o seu objectivo não é nem destoar nem entoar. Apenas se preocupa em estar próximo do mais popular, do “Cool”, recolher o pullover deste último quando cai dos ombros para o chão e servir de moços de recados para as namoradas, entre outros afazeres que o fazem sentir-se seguro e integrado. A liberdade individual está sempre limitada pelo grupo e, apesar de não ser daqueles com mais dificuldades de aprendizagem, a inteligência não é muito cultivada. Por outro lado, não gosta de gastar dinheiro, pode-se dizer inclusivé, que é bastante forreta, preferindo que lhe paguem as cervejas, cedam um cigarro ou emprestem uns trocos (que raramente devolve) para lanchar; é presença assídua nos espectáculos de entrada gratuita, não fosse este um bom português, e em todos os sítios onde se come e bebe sem pagar, mesmo que sejam favas com feijões. Aliás, um dos espectáculos preferidos são os acidentes na estrada. É comum poder observar este animal com o carro parado à beira da estrada para deslocar-se e observar o resultado de um qualquer sinistro rodoviário, até porque é de borla, ao vivo e não tem que pensar muito.
Os namoros são poucos, uma vez que são relações à sombra de outras que permitem sobreviver na sociedade, e chegando uma certa idade, o melhor é garantir um(a) companheiro(a) que seja fiel e disposto(a) a servir à mesa, a procurar as chaves do carro e passar o comando da televisão. Não é o animal mais carinhoso, sendo por vezes até perigoso, quando o incosciente procura expulsar toda a serventia acumulada e toda a personalidade reprimida para cima da companheira.
Sem grandes espontaneidade, e após anos de servir, quando chega a altura de arranjar trabalho ou ser promovido, o melhor é mamar mesmo na teta daqueles de quem lambeu ou lambe as botas. Fiel escudeiro, não procura ser o número 1, apenas mamar do número 1, até porque probabilisticamente, é aquele que mais leite deve ter. Os partidos políticos, juventudes partidárias, instituições bancárias, seguradoras, institudos públicos, assembleia da república, entre outras intituições de serviços, são os seus habitats predilectos, onde se sente mais cómodo e onde se podem encontrar um sem número de mamões que começam por levar resmas de papel, clips, agrafos, canetas para casa, e ao fim de um certo tempo, já sugam charutos, fatos, carros, estadias de hotel, prostitutas de luxo, viagens de férias, terrenos, casas e cartões de crédito para tudo o resto.
quarta-feira, 4 de março de 2009
O Empreendedor
Este animal está actualmente declarado extinto neste lado da península ibérica, pelo que neste momento não é possivel efectuar a sua caracterização. As possíveis causas para esta catástrofe incluem causas exógenas particulares como a renda da casa, o leasing do carro, os pacotes de viagem com tudo pago ao Brasil, entre outros destinos, que agravam a tendência para a posição “barriga para o ar”, os restos de resina nos sofás e demais assentos do IKEA, e causas exógenas mais génericas como o Sol, a chuva, o vento, a neve, o Estado, a democracia e “os Outros”. De entre as causas endógenas podemos destacar, a barriga saliente e orgulhosa, o medo de perder a oportunidade do tacho, a dependêcia de algo ou alguém, a cultura do “sei tudo, não preciso de ler nada”, o sexo fácil e garantido desde demasiado cedo, a falta de coragem de pensar pela própria cabeça e para assumir esses pensamentos, as vivências demasiadamente homógeneas dos grupos sociais, entre um sem número de outros.
Esperemos que os fluxos de emigração e imigração actualmente existentes no território português altere a matriz genética existente e permita o aparecimento e evolução de…EMPREENDEDORES!
segunda-feira, 2 de março de 2009
O Cool
O Cool deve o seu nome ao seu penteado, uma das suas imagens de marca. O gel e as pontas espicaçadas num aparente despenteado mas onde cada pormenor de cabelo é mais…cool que o outro. Esta personagem começa a definir-se na adolescência, essencialmente pela forma de vestir, com o pullover sobre as costas ou à cintura, e com os óculos da marca. O objectivo é estar na moda, mas fazê-lo de uma forma…cool, exibindo sempre uma atitude de rebeldia, de insubordinação face à autoridade. A bebida e o tabaco tornam-se elementos de definição dos grupos. Quem não fuma e não bebe não faz parte da malta fixe(a não ser que tenha boas notas). Apesar de tudo, a maioria não distingue um whisky escocês de um whisky espanhol limpa-retretes. Quando ao estudo, o pai e a mamã dão as ajudas necessárias.
Quando cresce, este animal passa por várias transformações, algumas infelizmente resultantes do álcool e outras resultantes de acidentes de viação, mas na generalidade incluem um título académico, uma vez que Engenheiro, Doutor ou Arquitecto, é o que se pretende atingir para manter o estatuto, uma garrafa nos bares do Marquês de Pombal, em Lisboa, e um carro desportivo para ajudar nos rituais de acasalamento.
O Cool, quando interrogado sobre o que gostaria de fazer na sua profissão, responde com o lábio torcido, sinal revelador que não faz ideia, até porque trabalhar não faz parte da sua natureza. No entanto quase sempre responde : “Eu gostava de gerir. Gerir equipas. Acho que tenho o perfil. É o único que sei fazer!”. Não interessa muito qual o objecto a ser gerido para este camaleão da gestão. Predestinados ou não, ou pré-indicados, a verdade é que conseguem sempre aquele emprego em que a “mão não incha”, e o pullover é substituído pela gravata. O objectivo é progredir, ou seja, ter no seu posto um fax, uma fotocopiadora, um telefone e alguém que lhe atenda as chamadas.
Quanto à política, este é um terreno privilegiado para o Cool. As suas ideias podem resumir-se a: "desenvolver a indústria, diminuir o desemprego e melhorar a educação!"Isto na verdade é a totalidade do seu pensamento político. É algo, vago, digamos assim, mas no entanto, isto não inibe o Cool de afirmar que se quisesses seria o próximo presidente da autarquia local, não fosse ele o mais cool, aquele que todos querem e desejam nas festas. Verdade seja dita, este é um indivíduo bastante sociável e alegre, que gosta de abraçar-se repetidamente aos seus amigos, muito pacífico e, não sendo o mais generoso, não se lhe conhecem atitudes rudes e faz tudo pelo grupo.